IndignEDUcação – Um pedido de ajuda

Desde 25 anos atrás, quando escolhi a área de educação, eu me pergunto sobre como posso contribuir para tornar o ensinar e o aprender mais prazerosos e efetivos.

Encontrei nas tecnologias essa possibilidade. Meus conhecimentos nessa área abriram as portas da Educação Indígena, da Educação de Jovens e Adultos, da Alfabetização e Letramento, da Literatura, da Educação Infantil. Assim, fui ao outro lado do mundo, Timor-Leste, sempre me perguntando sobre como posso contribuir para tornar o ensinar e o aprender mais prazerosos e efetivos.

Durante essa jornada, conheci gente maravilhosa com as quais aprendi muito. O que tinham em comum?  Um desejo de investir na Educação como UM dos caminhos de superação de superação da desigualdade e uma preocupação legítima e genuína com as pessoas que possuiam seus direitos desrespeitados.

Nesse interim, ouvi  histórias de exterminíos étnicos, mortes por conflitos de terras, mulheres que saiam escondidas do marido para ir para a escola estudar.  Vi filhas grávidas dos próprios pais, filhos queimados pelas mães, jovens com olhos vermelhos (algumas vezes eram lágrimas, outras vezes entorpedentes). Vi crianças apanhando de palmatória por chegarem atrasadas na sala de aula. Vi professores/as doentes. Em meio a tudo isso conheci a resiliência, a teimosia e a esperança nessa gente, por isso eu sempre segui em frente com projetos, ideiais e ações. Foi assim que senti a necessidade da luta cotidiana e a urgência em buscar coerência entre o que se fala e o que se faz. E fui seguindo minha vida sempre me perguntando sobre como posso contribuir para tornar o ensinar e o aprender mais prazerosos e efetivos.

Há cerca de um ano comecei a acompanhar algumas escolas públicas das redes municipais e estaduais. Há cerca de um ano, ainda vejo crianças confinadas em salas de aulas de pequenas, quentes, sem janela e sem nenhum atrativo além da boa vontade do Professor/a. Vejo jovens enfurecidos com alguns professores e professores infelizes pelo resultado do seu trabalho. Aqui no Brasil, ao que parece, já não se faz uso da palmatória, mas persistem formas de violência simbólica que marcam a alma.  Fico na porta da escola, esperando pelo meu filho e ouço conversas sobre tiroteios que ocorreram às 11 horas da manhã próximo à casa de seus coleguinhas. Converso sobre a dificuldade de atendimento médico para a criança doente, ou sobre o parente que morreu por falta de remédio controlado.

Tudo isso acontece mesmo com a existencia de um Sistema Único de Saúde que é para todos. Tudo isso acontece mesmo depois da aprovação de Diretrizes Curriculares Nacionais que tem como eixo norteardor o reconhecimento e valorização da diversidade e da diferença e a indissociabilidade entre cuidado e educação. É isso mesmo: há cerca de 3 anos aprovou-se um texto legal que não deixa dúvida: EDUCAR também É CUIDAR. CUIDAR É também EDUCAR. E esse cuidado-educação deve ser pautado no direito à diferença, em respeito à nossa diversidade do nosso povo.

Então, quando entro em algumas escolas  (não todas, felizmente, mas ainda muitas) procuro por esses princípios e ainda não os encontro. Eu vejo muitos profissionais que mantém a luta e o desejo de construir tudo isso. Eu vejo crianças e jovens almejando de atenção, espaços de brincar, espaços para mostrar o que tem de melhor, mas é tão dificil sem merenda de qualidade, sem infraestrutura acolhedora, sem reconhecimento da dimensão libertadora da Educação.

Se com todos os avanços legais que alcançamos nos últimos 25 anos (quando comecei a cursar pedagogia) ainda nos deparamos com tantos problemas, o que esperar com esse novo desgoverno que nos governa?

Um monte de retrocessos estão sendo instaurados. De uma vez, estão subtraindo direitos conquistados após muita luta social. A coisa pública não é uma benesse, a coisa pública é um direito nosso e estamos perdendo isso a cada dia,  estamos regredindo no tempo, voltando à época em que a cultura e os estudos eram privilégios daqueles economicamente favorecidos. Do jeito que as coisas andam, o direito à saúde e alimentação serão perdidos também. A diferença é que agora estamos dominados por um sistema econônimo que nos trata como numero e mercadoria. Se mal construímos uma democracia, caminhamos agora para um sistema político gerido pelos ricos, uma tal plutocracia, no qual a visão de mundo é contruída pela lente da grana.

Antes, eu me perguntava sobre como poderia contribuir para tornar o ensinar e o aprender mais prazerosos e efetivos. Agora eu estou como muitas outras pessoas parecem estar: estarrecida e indignada por não compreender o quadro geral que está se configurando. Não sei o que fazer, não sei como agir. Sò sei que minhas preocupações eram justas, mas não dão conta do que estamos enfrentando.

Preciso da ajuda das pessoas maravilhosas com as quais aprendi muito. Não podemos parar!

“Indignação – indignar, ou seja, sentir raiva, desprezo e frustração por algo considerado ofensivo, injusto ou incorreto.”

Para ajudar a pensar e agir:

Leia: Nelson Pretto: desabafo de um ativista da Educação

Participe da Campanha contra a PEC-241

Veja: Entenda PEC 241 em 5 minutos

Veja: Esquema de fraude pela PEC 241

2 comentários

  1. Karina você é demais, fui sua aluna em um curto espaço de tempo no inicio da minha graduação de pedagogia em 2013.1. hoje já estou finalizando o curso e não esqueço das suas falas ao nos orientar no laboratório de Informatica da Faculdade Montessoriano. Vir em você algo diferente, que na verdade era seu desejo de contribuir com a educação. Esta revolta que você está sentindo, sentir no meu primeiro dia de estágio quando cheguei na escola pública. Já havia passado por outras escolas privadas e por sinal uma destas bem requisitada aqui em Salvador. E ficava me perguntando. Por que os alunos “branquinhos e de cabelos lisos ” tinham um tratamento, os de cabelos crespos e negrinhos outro? Por que que uma aluna cadeirante e com paralisia cerebral, os professores não todos, mas a maioria nem olham ou ao menos escultam suas opiniões? Estas inquietações me perseguiram até oito meses nesta escola privada. Hoje depois de ter passado a maior parte da minha graduação trabalhando em escola publica vi que o preconceito e discriminação o descaso é bem maior, e que muitos gestores, coordenadores e professores não estão nem aí para a educação. “Os alunos que se danem”. Era o que eu escutavam muitas vezes nas reuniões pedagógicas ou nos ACs. Isso é revoltante. E em pensar que todo o sistema da sociedade está corrompido, causa indignação. Mas não podemos cruzar os braços e aceitar tudo isso. Aí por outro lado parece que estamos lutando em vão. Mas acredito na educação, ainda vejo que é a saída para um sistema corrupto.
    Parabéns Kary, sua revolta também é de “muitos ” porém são poucos os que desabafam.

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